<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, outubro 16, 2002

"Crónica da Bosta - Tomo I"

16-10-2002 - Lisboa, cave da Onivai

Haverá coisa mais degradante que estar num projecto cheio de miudas giras e ter que utilizar uma casa de banho que fica mesmo ao lado da delas, separada por uma parede que parece feita de cartão?!?!

Ora vejam só: um homem está aqui a dar-lhe forte e feio, a bulir que nem um porco... até que, sem pré-aviso, lhe dá uma dor! Daquelas vontades que não dá para aguentar, sabem? Um tipo ainda tenta sentar-se de lado, beber uma águinha, apertar o estômago... mas nada feito. E em busca da salvação, antes que seja tarde e algo indesejado aconteça, avança para a wc.
Senta-se no trono e prepara-se para relaxar... mas eis que soam os passos na casa de banho ao lado! Tão altos, parece que estão mesmo ao seu lado... e de facto estão! Pois fisicamente, as duas sanitas não devem estar separadas por mais de um metro...
Ou seja, curto e grosso: está a cagar ao lado de uma colega! Aaargh... a agonia.

E então, o maldito almoço faz das suas. Cólica atrás de cólica, o som troveja pelo interior do cagador. Avança, em soluços, trôpego mas seguro, intestino a fora, em direcção ao traseiro, de onde sairá para a água barrenta da sanita, por onde viajará tubo a fora para se tornar sustento de sardinhas, baleias e colega de banhos dos pretos na praia de Carcavelos.
Mas... e a colega ao lado? A colega de cagação?! Meu Deus, ai se o trovão soa! Desesperado, no silêncio da casa de banho, ele tenta travar o avanço imparável da massa consistente... e na ânsia, na pujança e na ganância lança um suspiro de alívio...
UFA!!
OOPS!!
UM SUSPIRO DE ALÍVIO NUMA CASA DE BANHO EM SILÊNCIO SOA MAIS ALTO QUE UM AVIÃO A DESCOLAR!!!
Mas pronto, menos mau. Ao menos não foi o temível som-zundap.

Assim correm segundos, minutos. Uma eternidade de pequenas descargas controladas, em silêncio, em sofrimento, em esforço.
No final, o homem, elevado à categoria de herói, limpa o rabiosque, lava as mãozinhas e sai em êxtase da casa de banho.

E é então que, lá fora, cruza-se com a colega, também ela a sair da sua casa de banho... Colega jeitosa, daquela que alegra os cinzentos dias de trabalho.
O silêncio.
O incómodo silêncio.
O embaraço.
A vergonha.
Anos de trabalho, a criar uma imagem cool, dezenas de contos em camisas Ralph Lauren, centenas de contos em fatos de marca, um Audi A3. E uma ida à casa de banho rebenta com tudo. Um suspiro. Um splash na água.

Oh merda, porque é que não fazem casas de banho mais separadas?

(nota do redactor: Esta obra é pura ficção. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência)

Comments: Enviar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?